Igreja Evangélica Alemã
ENCONTRO COM A COMUNIDADE FRANCISCANA E REPRESENTANTES DE IGREJAS E RELIGIÕES NO PORTO EM 26.10.2011
INTRODUÇÃO
Nesta comemoração dos 25 anos do encontro de oração realizado pelo Papa João Paulo II em Assis, em 1986, encontro esse que será evocado amanhã, 27 de Outubro em Assis, vou reflectir convosco um pouco sobre o tema dessa encontro:
«Peregrinos da verdade, peregrinos da paz»
Para o Reformador Martinho Lutero, fundador da Igreja à qual pertenço, o conceito de “verdade” estava estritamente ligado aos ensinamentos da Sagrada Escritura.
No Novo Testamento, a “verdade” significa a realidade de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. A verdade bíblica realiza-se na missão salvífica de Jesus Cristo, cuja morte na Cruz desvenda a vitória da verdade sobre a mentira. No capítulo 14 do Evangelho de S. João, nem a paz pode existirão diz: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida!». Para além da verdade, o Espírito de Assis enfatiza igualmente o conceito de “Paz”. Esta, na óptica cristã, só pode concretizar-se sobre o alicerce da verdade, não podendo esta ser deturpada por ideologias estranhas, por um sincretismo, os quais possam pôr em causa a verdade e a obra salvífica de Jesus Cristo.
O encontro de Assis frisou que, nem a paz pode existir sem a verdade, nem a verdade sem a paz. O Espírito de Assis procurou em 1986, procura também hoje aqui nesta celebração, e amanhã novamente em Assis, bem como no futuro, a paz, tão importante no mundo em que vivemos. Todas as religiões procuram, ou devem procurar, duma forma comum a paz. Em todas as religiões existe um património de valores e riquezas espirituais, as quais podem preparar o nosso coração para Cristo.
Para haver um bom entendimento entre as religiões na procura da paz, é indispensável haver um diálogo pacífico entre elas; para atingir tal meta, é essencial a oração, praticada em Assis simultaneamente por todos os participantes. A oração é uma condição de paz e justiça no mundo. Através da oração o homem saberá reencontrar o seu vínculo religioso com Deus, o que é vital nos tempos actuais do ateísmo e do agnosticismo em que vivemos. Este vínculo religioso é comum a todas as religiões, na medida em que, na história da Arca de Noé, Deus considerou o arco-íris como sinal de reconciliação de Deus com toda a humanidade, independentemente das diversas religiões.
O diálogo deve respeitar diferenças e diversidade de tradições, no entanto sem perda da identidade pessoal de cada religião. Uma coisa no entanto deve ser comum a todas as religiões: A rejeição terminante de todos os sistemas religiosos autoritários e fundamentalistas, especialmente os que praticam actos terroristas. Estes demonstram cegueira religiosa e violam o direito do ser humano à vida, direito inerente ao facto do homem ser criatura de Deus.
Como peregrinos da verdade e da paz construiremos um mundo mais justo e solidário, conscientes de que essa tarefa supera as nossas pobres forças, devendo nós reconhecer que só a força do Espírito Santo nos permite atingir tal meta.
Ser peregrino significa que ainda caminhamos em direcção ao nosso destino final. Este destino é a vida eterna, a qual já começa nesta vida terrena e que terá a sua consumação plena após a ressurreição dos mortos.